A dor da AIDS na África

Ouvir falar sobre a AIDS na África na maioria das vezes significa ouvir números altíssimos de infectados e mortos. Mas a nossa imagem fica aí, nos números. E então alguém suspira: “nossa, que horror” e o assunto pode ou morrer por aí ou passar para alguma discussão de como mudar o quadro negro. Daí segue-se para a uma conclusão barata de que é culpa das práticas culturais, seguido de um silêncio, pois não há o que dizer.

Mas a gente realmente entende o que isso representa na vida das pessoas? Entendemos o impacto e a dor? O fotógrado Luiz Maximiano fotografou essa realidade na Suazilândia. A sequência de fotos, exibida junto com  vozes das mulheres cantando no velório de uma moça que morreu de AIDS ao 30 anos. Devo confessar que, foi a primeira vez que eu pude entender, bem de leve, o que é a AIDS na África. As fotos não exploram cenas de corpos quase em degradação, mas apenas transmitem o sentimento daqueles presente. Clique aqui e assista, pois foi de arrepiar. No site tem outro trabalho bem interessante, no Zimbábue.

e eu tive

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Rio de Janeiro tem festival voltado para a cultura africana

Seun Kuti

No Brasil muitas vezes as pessoas pensam que falam da África, quando na verdade eles tratam da questão afro-brasileira. Em um primeiro momento achei que o festival Back2Black, que acontece nos dias 27, 28 e 29 de agosto no Rio de Janeiro, fosse isso. Mas ler a programação completa, eu percebi que dessa vez a proposta é outra e na verdade é cheio de ótimos representantes da cultura africana. Composto de shows, debates e outras manifestações culturais, o evento terá a presença de músicos como Seun Kuti, filho do nigeriano Fela Kuti, que vem com a banda do pai Egypt 80, o maior músico do Mali, Viuex Farka Touré e Zola, da África do Sul. É claro que artistas brasileiros também vão se apresentar, assim como jamaicanos e americanos, como Eryka Badu.

A parte dos debates tem curadoria do escritor angolano José Eduardo Agualusa. Entre os convidados estão: a vice-presidente do malaui, Joyce Banda, o escritor moçambicano Mia Couto, o escritor nigeriano Chris Bani, o embaixador sul-africano Zola e o cineasta moçambicano Ruy Guerra. Confira a programação completa no site: www.back2blackfestival.com.br. Abaixo segue um vídeo de Seun Kuti, e outro de Vieux Farka Touré:

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Viagem ao Marrocos

A grande diferença cultural entre a África subsaariana e a África do Norte faz com que muita gente esqueça que países como o Marrocos e o Egito façam parte do continente africano. Uma amiga minha, a Lívia Barros, viajou até o Marrocos e escreveu um relato bem interessante e cheio de dicas bacanas para o site Around The World. Não são só as fotos, mas o jeito que ela escreve me levaram diretamente para as terras marroquinas, como se eu também estivesse lá. Republico o texto aqui. Boa viagem:

Marrocos é um país de extremos e por isso é possível sentir o famoso choque cultural! Principalmente, quando o percurso é via Europa, onde o contraste e as semelhanças se misturam, em continentes tão próximos e ao mesmo tempo tão distantes.
Durante a viagem, o país tras momentos diferentes: repleto de locais exóticos e praias, onde vários idiomas e religião se misturam, com culinária e cultura de coloridas expressões demonstradas por várias fortalezas e alguns marcos de arquitetura civil e religiosa, além de um povo acolhedor e simpático.
Fechamos um pacote quando estávamos em Sevilha, só para passar o final de semana. Preço bom, esquema bom, e a gente já tava lá mesmo!
Ao Sul da Espanha, existem muitas agências que organizam excursões e viagens de qualidade por todo o Marrocos, desde as melhores cidades até montanhas, praias e o Deserto do Saara.
Pegamos um onibus até a cidade de Tarifa, e outro até o ferry-boat que partia às 11 horas da manhã. Chegamos em Tanger, e no percurso já conhecemos um jornalista americano, convertido ao islamismo, que pretendia fazer alguns programas “fora do pacote”. E assim, acabamos conhecendo os costumes dos marroquinos locais mais típicos…
Na região Norte de Marrocos, os idiomas se misturam: espanhol, francês, inglês, e dentre as comidas típicas, comemos até carne de pomba na massa folheada (e olha que sou vegetariana..rs)
Chefchaouen é uma cidade bonita com edifícios da antiga medina dentro das muralhas, que são todas pintadas em cal branca e azul turquesa. Já nas montanhas do Riff para além de Chefchaouen, existe uma das zonas no mundo com mais produção de marijuana. O haxixe para a o Sul da Europa vem principalmente dali. Há leis antigas de Reis marroquinos que deram autorização a esta zona do Riff para produzirem legalmente. Como os reis precedentes não podem negar ou cancelar leis antigas, esta zona tem agora, um certo silêncio governamental, mesmo com muita pressão internacional.
A 50km de Riffe está Asilah, cercada de muralhas e próxima ao mar, é uma cidade linda de se fotografar, com muitos restaurantes, onde se pode provar peixes e tajines deliciosos.
Há hospedagem em Marrocos para todos os gostos e bolsos. Pode-se gastar 3 Euros para dormir em um terraço de hotel em Marrakech, ou até 100 euros para ficar em uma “Riad”. Os quartos de alberge custam algo em torno de 10 a 30 euros por pessoa. Já uma “Riad” com “pequeno-almoço”, custa de 45 euros até 500 euros por pessoa. Um hotel citadino pode ir de 10 Euros até 40 euros por pessoa. E por ai vai…
Uma Riad é uma casa do fim do século XVIII ou século XIX, antigamente habitadas pela alta burguesia marroquina, que com o passar dos tempos se mudaram para cidades mais desenvolvidas. Há Riads para todos os estilos e para todos os preços. As melhores cidades para se ficar em riads são: Marrakech, Fez e Ouarzazate.
As temperaturas no Marrocos oscilam muito. No litoral mediterrâneo podem chegar a 10 graus no inverno entre janeiro e fevereiro quando as chuvas são constantes. Em Julho são registradas temperaturas de 45 graus no interior de Marrocos, chegando a 50 no deserto!!
Por se tratar de um país essencialmente mulçumano, não custam salientar algumas dicas importantes:
1- Não esquecer, que para a moral islâmica, uma vestimenta extravagante ou ousada pode resultar ofensiva;
2- Nunca utilizar a palavra “Mouros”;
3- Ao fazer compras, é quase obrigatório uma barganha, pechincha, ou como você quiser chamar, o que importa é negociar o preço, que muitas vezes sai por metade do inicialmente pedido. Mas atenção: nunca recusar a compra se o vendedor aceitou a tua oferta;
4-Leve material escolar (cadernos, esferográficas, etc..) para oferecer às crianças que vão te abordar (e não são poucas);
5- Pedir autorização, sempre que se pretenda tirar uma foto a alguém nativo, assim você evita situações constrangedoras;
6-Beba SEMPRE água mineral engarrafada

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Reino Unido dá uma de Lula nas relações comerciais com o Sudão e outros links

O presidente do Sudão, Omar-al-Bashir é acusado de genocídio, crimes de guerra e contra os direitos humanos

Os partidos de oposição do governo sul-africano se unem – Blog Pé Na África

O escritor Olufemy Terry é o primeiro de Serra Leoa a ganhar o prêmio Caine de literatura Africa – The Economist

O estupro masculino como arma de guerra poderia ser diminuído se os homens começarem a entender a igualdade entre os sexos – The Guardian

Será que o Reino Unido também esqueceu os direitos humanos? País aumenta negócios com o Sudão – The Guardian

Três soldados da ONU são mortos no Congo – NYT

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Energia a partir de gases vulcânicos e a volta de Philip Gourevitch a Ruanda

A usina Kibuye no lago Kivu

Não quero soar repetitiva, mas acabo de ler duas notícias sobre Ruanda que não dá para deixar de comentar. A primeira é um projeto nunca antes feito no mundo vai usar os os  gases vulcânicos presos no fundo do lago Kivu para gerar energia para o país durante décadas.  O plano é muito bacana também pelo fato de o lago oferecer um risco incomum de explodir por causa dos gases (só existem mais dois lagos assim, os dois no Camarões), o que mataria milhares de pessoas que vivem ao seu redor, e a iniciativa também reduz as chances de que isso aconteça.

A energia é gerada a partir do metano, principal gás da mistura, que é separado, quando a água do lago é extraída.  A Usina estatal Kibuye já produz mais 4% do fornecimento do país e em dois anos eles já devem suprir 2/3 da necessidade do país. Até agora só uma em 14 casas possuem energia elétrica. O projeto também incentivou empresas locais e estrangeiras a investirem milhões nas margens do lago. Mas Cindy Erbinger, uma professora da universidade de Rochester que fez um estudo sobre o lago no começo do ano, diz que ainda é preciso fazer mais estudos para ver os efeitos da água e do dióxido de carbono, ao serem bombeados de volta ao lago.  Leia a matéria completa está no The Guardian.

A segunda notícia saiu no site da The Economist e é sobre o jornalista Philip Gourevitch, que escreveu em 1998 o  “Gostaríamos de informá-los que amanhã seremos mortos com as nossas famílias”, um livro bem completo sobre o genocídio. Ao voltar ao país no ano passado ele ficou impressionado com as mudanças positivas no país e vai escrever um novo livro, com o objetivo de analisar como se deram essas mudanças, que pareciam impossíveis de acontecer.

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Crise política de Madagáscar perto do fim?

Cidade de For-Dauphin, ao Sul

Mergulhada em uma crise política desde 2002, Madagáscar começa finalmente a vislumbrar uma solução com um acordo político para eleições presidenciais em 2011.

Os problemas começaram quando o presidente Marc Ravalomanana foi eleito em 2002. A oposição o acusava de roubar dinheiro público e violar a constituição e depois de ter sido reeleito em 2006, Ravalomanana renunciou em janeiro de 2009 depois de diversos protestos e confrontos entre a população e a polícia liderados porAndry Rajoelina, um jovem de 34 anos , que além de ser ex-prefeito da capital Antananarivo, já foi DJ. Depois da renúncia, ele se autoproclamou presidente e governa Madagáscar desde então.

Infelizmente o cenário da ilha atualmente é de pobreza e de cidadãos sem futuro e não é nada parecido com o que sugere o desenho Madagáscar, em que animais de um zoológico de Nova York vão parar na ilha. Dois jornalistas do Le Monde fizeram uma longa viagem pelo país dos malgaches e produziram um blog bem interessante sobre o que viram por lá. Já as tristes fotos da ilha podem ser vistas em uma galeria dentro do Le Monde.

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O técnico de vôlei de Ruanda é brasileiro

O vôlei é um esporte popular em Ruanda. Isso porque, na modalidade, não existe a necessidade de contato entre os jogadores, e logo depois do genocídio cometido contra os tutsis, isso era essencial. Mas ainda assim, seu sua equipe de vôlei é relativamente nova e foi escolhida depois que a equipe técnica brasileira chegou pra treiná-los.  Equipe técnica brasileira? Pois é, o dentista Eduardo Exposito tinha ido ao Quênia para desenvolver um projeto de espalhar clínicas pelo país. Foi quando a embaixadora brasileira, Ana Maria Sampaio, que é responsável não só pelo Quênia, mas por Uganda, Burundi e Ruanda, falou a Eduardo que ele tinha que conhecer esse último país.

Ao chegar lá, o ministro dos esportes comentou com Eduardo da necessidade de ter um novo técnico. Como Eduardo jogou vôlei durante a faculdade e sempre gostou do esporte, falou que para obter algum resultado, era necessária uma equipe técnica. Eduardo fez a ponte e a equipe técnica brasileira chegou em Ruanda no dia 15 de fevereiro e pretende ficar por pelo menos três anos. O jogadores e os técnicos estão no Brasil desde 20 de junho para treinar para um torneio na Líbia. Entrevistei o técnico do time, Paulo de Tarso, para o ObaOba, para ouvir a experiência de Ruanda in loco. Confira: http://www.obaoba.com.br/brasil/magazine/o-tecnico-de-volei-de-ruanda-e-brasileiro

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A nova constituição do Quênia é um reflexo das etnias?

Quenianos na fila para votar

Gostaria muito de saber se essa nova constituição vai realmente fazer alguma diferença na vida das pessoas, e como não sei muito sobre a história do Quênia comecei a pesquisar sobre o tema. Foi quando li um artigo da The Economist, que uma amiga me mandou, falando que o resultado do referendo era reflexo das etnias. “Lealdade tribal ainda ganha o dia”, dizia o título da matéria e ele me deixou um pouco confusa. A África é um continente com diversas etnias diferentes, mas assim também é a Europa só que lá ninguém coloca a culpa de todos os problemas nas etnias.

É presunçoso da minha parte questionar a credibilidade da revista, mas quando o assunto é etnias, todo cuidado é pouco. Fomos treinados a chegar nessa conclusão sendo que, aqueles que tem a oportunidade de vivenciar a África, explicam que são raríssimos os problemas étnicos e que diferentes culturas costumam conviver em paz. Em um curso de África que eu estava fazendo na PUC lembrei do quanto foi enfatizado essa questão da nossa cultura ocidental cismar com a questão étnica, talvez traumatizada depois de Ruanda.

A matéria também me deixou um pouco indignada pelo seu tom de superioridade, que terminava com um “Um dia, talvez, a política vai falar mais alto que as tribos na hora dos quenianos votarem. Mas pelo jeito, ainda não”.  Será mesmo? O The Guardian deu uma matéria falando sobre como as preocupações da população com a mudança de presidente em 2012 afetam o otimismo sobre o referendo, já que um novo presidente poderia anular os efeitos do referendo.

Sobre a nova constituição, ela teve 67% de aprovação no referendo, e os quenianos estão esperançosos as novas leis que prometem uma grande reforma agrária e mais liberdade de expressão e deixam o texto dos tempos coloniais para trás. Outro ponto interessante é que o presidente pode sofrer impeachment do parlamento e o presidente não pode tentar se reeleger mais uma vez. O povo também ganha o direito a dupla cidadania, mas o aborto continua proibido, salvo em casos de risco de vida.

É difícil chegar a uma conclusão se esse é ou não um reflexo das etnias, mas de qualquer forma, vale apena ler as duas matérias sobre o assunto, questionar o tema e se aprofundar no assunto. Vi uma vez uma mapa da África com base vou procurá-lo, e publico em breve. Além dessas duas matérias, o Le Monde publicou explicando direitinho os pontos do referendo.

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A nova Lauryn Hill vem da Nigéria

Nneka é uma nigeriana de 29 anos nascida em Warri, a complicada região do Delta do Níger. Apesar de cantar desde pequena, foi só quando ela foi para a Alemanha aos 18 anos que sua música ganhou visibilidade, com a ajuda do DJ de hip-hop Farhot. Estilosa, com uma voz única e músicas com uma batida boa, Nneka é considerada por entendidos de música como a próxima Lauryn Hill. Além disso, suas músicas falam muito sobre a realidade da África, e merecem ser ouvidas, além de dançadas.

Apesar de ser mais conhecida como uma cantora de hip-hop, é só ouvir seu álbum de 2008, No At Ease para perceber que as influências vão muito além disso. Além da própria Lauryn Hill, ela cita muito outro músico nigeriano, o Fela Kuti, além de Mos Def, Talib Kweli e Bob Marley. As músicas são muito diferentes entre si e vale apena ouvir faixas como Confession, que tem uma coisa meio jazz, Africans tem uma pegada meio reggae e Heartbeat, que é mais rapidinha e eu deixo pra vocês mesmos concluírem o estilo. O clipe tem no Youtube, mas não consegui colocá-lo aqui, só um vídeo com a música. Algumas músicas estão abaixo:

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Quênia tem nova constituição e mais outros links

Quenianos na fila para votar no referendo

Selecionei alguns links de artigo e notícias interessantes que li hoje sobre a África. Confiram:

  • Charles Who? – Blog Baobab: É o ex-presidente na Libéria, Charles Taylor, e não Naomi Campbell, que está em julgamento em Haia.
  • Osso descoberto na Etiópia coloca a data de uso de ferramentas feitas em pedra um milhão de anos antes – The Guardian
  • Queda de boing no Zimbábue era um mero exercício – Le Monde
  • Referendo aprova nova constituição no Quênia que substitui uma da época colonial. Ela protege a liberdade de expressão. – Le Monde

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