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Presidente rapper

Preocupado em se reeleger, o presidente de Uganda, Yoweri Museveni  não abriu novas escolas, arrumou as ruas, ou instalou luz elétricas. Ao invés disso ele resolveu virar um rapper, e a música “U want another rap” já virou hit: ela toca nas baladas, no rádio e até como ringtone.

As músicas são cantadas, em sua maioria, em Runyakore, língua falada pela maior parte da população. As letras falam sobre começar do zero mas conseguir se dar bem. Além de ele ter 65 anos, a parte mais estranha dessa história é que ele é presidente há maisde 20 anos e não é como se as eleições por lá fossem muito limpas, né? Aí vai o hit “U Want Another Rap”:

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Crise política de Madagáscar perto do fim?

Cidade de For-Dauphin, ao Sul

Mergulhada em uma crise política desde 2002, Madagáscar começa finalmente a vislumbrar uma solução com um acordo político para eleições presidenciais em 2011.

Os problemas começaram quando o presidente Marc Ravalomanana foi eleito em 2002. A oposição o acusava de roubar dinheiro público e violar a constituição e depois de ter sido reeleito em 2006, Ravalomanana renunciou em janeiro de 2009 depois de diversos protestos e confrontos entre a população e a polícia liderados porAndry Rajoelina, um jovem de 34 anos , que além de ser ex-prefeito da capital Antananarivo, já foi DJ. Depois da renúncia, ele se autoproclamou presidente e governa Madagáscar desde então.

Infelizmente o cenário da ilha atualmente é de pobreza e de cidadãos sem futuro e não é nada parecido com o que sugere o desenho Madagáscar, em que animais de um zoológico de Nova York vão parar na ilha. Dois jornalistas do Le Monde fizeram uma longa viagem pelo país dos malgaches e produziram um blog bem interessante sobre o que viram por lá. Já as tristes fotos da ilha podem ser vistas em uma galeria dentro do Le Monde.

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A nova constituição do Quênia é um reflexo das etnias?

Quenianos na fila para votar

Gostaria muito de saber se essa nova constituição vai realmente fazer alguma diferença na vida das pessoas, e como não sei muito sobre a história do Quênia comecei a pesquisar sobre o tema. Foi quando li um artigo da The Economist, que uma amiga me mandou, falando que o resultado do referendo era reflexo das etnias. “Lealdade tribal ainda ganha o dia”, dizia o título da matéria e ele me deixou um pouco confusa. A África é um continente com diversas etnias diferentes, mas assim também é a Europa só que lá ninguém coloca a culpa de todos os problemas nas etnias.

É presunçoso da minha parte questionar a credibilidade da revista, mas quando o assunto é etnias, todo cuidado é pouco. Fomos treinados a chegar nessa conclusão sendo que, aqueles que tem a oportunidade de vivenciar a África, explicam que são raríssimos os problemas étnicos e que diferentes culturas costumam conviver em paz. Em um curso de África que eu estava fazendo na PUC lembrei do quanto foi enfatizado essa questão da nossa cultura ocidental cismar com a questão étnica, talvez traumatizada depois de Ruanda.

A matéria também me deixou um pouco indignada pelo seu tom de superioridade, que terminava com um “Um dia, talvez, a política vai falar mais alto que as tribos na hora dos quenianos votarem. Mas pelo jeito, ainda não”.  Será mesmo? O The Guardian deu uma matéria falando sobre como as preocupações da população com a mudança de presidente em 2012 afetam o otimismo sobre o referendo, já que um novo presidente poderia anular os efeitos do referendo.

Sobre a nova constituição, ela teve 67% de aprovação no referendo, e os quenianos estão esperançosos as novas leis que prometem uma grande reforma agrária e mais liberdade de expressão e deixam o texto dos tempos coloniais para trás. Outro ponto interessante é que o presidente pode sofrer impeachment do parlamento e o presidente não pode tentar se reeleger mais uma vez. O povo também ganha o direito a dupla cidadania, mas o aborto continua proibido, salvo em casos de risco de vida.

É difícil chegar a uma conclusão se esse é ou não um reflexo das etnias, mas de qualquer forma, vale apena ler as duas matérias sobre o assunto, questionar o tema e se aprofundar no assunto. Vi uma vez uma mapa da África com base vou procurá-lo, e publico em breve. Além dessas duas matérias, o Le Monde publicou explicando direitinho os pontos do referendo.

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Ruanda reelege Paul Kagame

Eleições em Ruanda

Cartazes com a imagem de Paul Kagame. Foto do site do NYT. Crédito: Finbarr O'Reilly/Reuter

Já fazem muitos anos que Ruanda não é o país que muitos tem em mente: o genocídio cometido contra os tutsis acabou há 16 anos e o país se desenvolveu muito desde então. O governo tem baixos índices de corrupção, a economia cresce, as crianças vão à escola e as ruas são tão limpas quanto as da Suíça (uma vez por mês o presidente limpa as ruas com a população, aos sábados).

Infelizmente a última segunda-feira, 9 de agosto, mostra que o país, assim como muitos outros na África (e no mundo), ainda tem problemas quando o assunto são eleições. Paul Kagame, que governa Ruanda desde 1994 foi eleito com 93% dos votos. Por mais que o presidente tenha livrado o país da situação caótica do genocídio em que por volta de 800 mil pessoas morreram, esse resultado não representa o pensamento da população, apesar dele ser extremamente popular.

Muitos partidos não puderam concorrer. Segundo o New York Times, a repressão tem sido comum e uma concorrente do presidente, Victoire Ingabire, foi presa junto com o seu advogado. Outro candidato em potencial foi achado morto, boiando em um rio  e um general dissidente sofreu um atentado na África do Sul. A Human Rights-Watch declarou que o ambiente pré-eleições era de “uma crescente repressão política e o fim da liberdade de expressão”.

Com os meios de comunicação a realidade não é diferente e não há espaço para publicações independentes. Sua justificativa é de que a paz ainda é frágil e que a liberdade de imprensa poderia levar a um novo conflito entre hutus e tutsis. Nas ruas as coisas aparentemente são diferentes. Tive a chance de conhecer equipe ruandesa de vôlei, que está no Brasil, e não há sinais de rivalidades, segundo eles e a equipe técnica, formada por brasileiros. Paulo de Tarso, técnico, conta que “não existe uma diferenciação entre as etnias. Eles se chamam de ruandeses.” Aliás, aqueles que se denominam Hutus ou Tutsis são presos. Já segundo o New York Times, aqueles que seriam Hutus reclamam que os Tutsis são maioria nos cargos de poder, apesar da população ser de aproximadamente 85% hutus e 15% tutsis.

Não existe uma revolução prestes a ocorrer, o país continua estável e apesar de críticas e problemas como esse o país é visto como um lugar seguro para investimentos. Mas o assunto é delicado: Paul Kagame quebra o paradigma de que um ditador africano é sinônimo de fome e pilhagem. Mas uma realidade política sem democracia é simplesmente inaceitável do meu ponto de vista.

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