Cartazes com a imagem de Paul Kagame. Foto do site do NYT. Crédito: Finbarr O'Reilly/Reuter
Já fazem muitos anos que Ruanda não é o país que muitos tem em mente: o genocídio cometido contra os tutsis acabou há 16 anos e o país se desenvolveu muito desde então. O governo tem baixos índices de corrupção, a economia cresce, as crianças vão à escola e as ruas são tão limpas quanto as da Suíça (uma vez por mês o presidente limpa as ruas com a população, aos sábados).
Infelizmente a última segunda-feira, 9 de agosto, mostra que o país, assim como muitos outros na África (e no mundo), ainda tem problemas quando o assunto são eleições. Paul Kagame, que governa Ruanda desde 1994 foi eleito com 93% dos votos. Por mais que o presidente tenha livrado o país da situação caótica do genocídio em que por volta de 800 mil pessoas morreram, esse resultado não representa o pensamento da população, apesar dele ser extremamente popular.
Muitos partidos não puderam concorrer. Segundo o New York Times, a repressão tem sido comum e uma concorrente do presidente, Victoire Ingabire, foi presa junto com o seu advogado. Outro candidato em potencial foi achado morto, boiando em um rio e um general dissidente sofreu um atentado na África do Sul. A Human Rights-Watch declarou que o ambiente pré-eleições era de “uma crescente repressão política e o fim da liberdade de expressão”.
Com os meios de comunicação a realidade não é diferente e não há espaço para publicações independentes. Sua justificativa é de que a paz ainda é frágil e que a liberdade de imprensa poderia levar a um novo conflito entre hutus e tutsis. Nas ruas as coisas aparentemente são diferentes. Tive a chance de conhecer equipe ruandesa de vôlei, que está no Brasil, e não há sinais de rivalidades, segundo eles e a equipe técnica, formada por brasileiros. Paulo de Tarso, técnico, conta que “não existe uma diferenciação entre as etnias. Eles se chamam de ruandeses.” Aliás, aqueles que se denominam Hutus ou Tutsis são presos. Já segundo o New York Times, aqueles que seriam Hutus reclamam que os Tutsis são maioria nos cargos de poder, apesar da população ser de aproximadamente 85% hutus e 15% tutsis.
Não existe uma revolução prestes a ocorrer, o país continua estável e apesar de críticas e problemas como esse o país é visto como um lugar seguro para investimentos. Mas o assunto é delicado: Paul Kagame quebra o paradigma de que um ditador africano é sinônimo de fome e pilhagem. Mas uma realidade política sem democracia é simplesmente inaceitável do meu ponto de vista.
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