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Energia a partir de gases vulcânicos e a volta de Philip Gourevitch a Ruanda

A usina Kibuye no lago Kivu

Não quero soar repetitiva, mas acabo de ler duas notícias sobre Ruanda que não dá para deixar de comentar. A primeira é um projeto nunca antes feito no mundo vai usar os os  gases vulcânicos presos no fundo do lago Kivu para gerar energia para o país durante décadas.  O plano é muito bacana também pelo fato de o lago oferecer um risco incomum de explodir por causa dos gases (só existem mais dois lagos assim, os dois no Camarões), o que mataria milhares de pessoas que vivem ao seu redor, e a iniciativa também reduz as chances de que isso aconteça.

A energia é gerada a partir do metano, principal gás da mistura, que é separado, quando a água do lago é extraída.  A Usina estatal Kibuye já produz mais 4% do fornecimento do país e em dois anos eles já devem suprir 2/3 da necessidade do país. Até agora só uma em 14 casas possuem energia elétrica. O projeto também incentivou empresas locais e estrangeiras a investirem milhões nas margens do lago. Mas Cindy Erbinger, uma professora da universidade de Rochester que fez um estudo sobre o lago no começo do ano, diz que ainda é preciso fazer mais estudos para ver os efeitos da água e do dióxido de carbono, ao serem bombeados de volta ao lago.  Leia a matéria completa está no The Guardian.

A segunda notícia saiu no site da The Economist e é sobre o jornalista Philip Gourevitch, que escreveu em 1998 o  “Gostaríamos de informá-los que amanhã seremos mortos com as nossas famílias”, um livro bem completo sobre o genocídio. Ao voltar ao país no ano passado ele ficou impressionado com as mudanças positivas no país e vai escrever um novo livro, com o objetivo de analisar como se deram essas mudanças, que pareciam impossíveis de acontecer.

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O técnico de vôlei de Ruanda é brasileiro

O vôlei é um esporte popular em Ruanda. Isso porque, na modalidade, não existe a necessidade de contato entre os jogadores, e logo depois do genocídio cometido contra os tutsis, isso era essencial. Mas ainda assim, seu sua equipe de vôlei é relativamente nova e foi escolhida depois que a equipe técnica brasileira chegou pra treiná-los.  Equipe técnica brasileira? Pois é, o dentista Eduardo Exposito tinha ido ao Quênia para desenvolver um projeto de espalhar clínicas pelo país. Foi quando a embaixadora brasileira, Ana Maria Sampaio, que é responsável não só pelo Quênia, mas por Uganda, Burundi e Ruanda, falou a Eduardo que ele tinha que conhecer esse último país.

Ao chegar lá, o ministro dos esportes comentou com Eduardo da necessidade de ter um novo técnico. Como Eduardo jogou vôlei durante a faculdade e sempre gostou do esporte, falou que para obter algum resultado, era necessária uma equipe técnica. Eduardo fez a ponte e a equipe técnica brasileira chegou em Ruanda no dia 15 de fevereiro e pretende ficar por pelo menos três anos. O jogadores e os técnicos estão no Brasil desde 20 de junho para treinar para um torneio na Líbia. Entrevistei o técnico do time, Paulo de Tarso, para o ObaOba, para ouvir a experiência de Ruanda in loco. Confira: http://www.obaoba.com.br/brasil/magazine/o-tecnico-de-volei-de-ruanda-e-brasileiro

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Ruanda reelege Paul Kagame

Eleições em Ruanda

Cartazes com a imagem de Paul Kagame. Foto do site do NYT. Crédito: Finbarr O'Reilly/Reuter

Já fazem muitos anos que Ruanda não é o país que muitos tem em mente: o genocídio cometido contra os tutsis acabou há 16 anos e o país se desenvolveu muito desde então. O governo tem baixos índices de corrupção, a economia cresce, as crianças vão à escola e as ruas são tão limpas quanto as da Suíça (uma vez por mês o presidente limpa as ruas com a população, aos sábados).

Infelizmente a última segunda-feira, 9 de agosto, mostra que o país, assim como muitos outros na África (e no mundo), ainda tem problemas quando o assunto são eleições. Paul Kagame, que governa Ruanda desde 1994 foi eleito com 93% dos votos. Por mais que o presidente tenha livrado o país da situação caótica do genocídio em que por volta de 800 mil pessoas morreram, esse resultado não representa o pensamento da população, apesar dele ser extremamente popular.

Muitos partidos não puderam concorrer. Segundo o New York Times, a repressão tem sido comum e uma concorrente do presidente, Victoire Ingabire, foi presa junto com o seu advogado. Outro candidato em potencial foi achado morto, boiando em um rio  e um general dissidente sofreu um atentado na África do Sul. A Human Rights-Watch declarou que o ambiente pré-eleições era de “uma crescente repressão política e o fim da liberdade de expressão”.

Com os meios de comunicação a realidade não é diferente e não há espaço para publicações independentes. Sua justificativa é de que a paz ainda é frágil e que a liberdade de imprensa poderia levar a um novo conflito entre hutus e tutsis. Nas ruas as coisas aparentemente são diferentes. Tive a chance de conhecer equipe ruandesa de vôlei, que está no Brasil, e não há sinais de rivalidades, segundo eles e a equipe técnica, formada por brasileiros. Paulo de Tarso, técnico, conta que “não existe uma diferenciação entre as etnias. Eles se chamam de ruandeses.” Aliás, aqueles que se denominam Hutus ou Tutsis são presos. Já segundo o New York Times, aqueles que seriam Hutus reclamam que os Tutsis são maioria nos cargos de poder, apesar da população ser de aproximadamente 85% hutus e 15% tutsis.

Não existe uma revolução prestes a ocorrer, o país continua estável e apesar de críticas e problemas como esse o país é visto como um lugar seguro para investimentos. Mas o assunto é delicado: Paul Kagame quebra o paradigma de que um ditador africano é sinônimo de fome e pilhagem. Mas uma realidade política sem democracia é simplesmente inaceitável do meu ponto de vista.

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